PROMOVENDO O DESENVOLVIMENTO COOPERATIVO
en | es
slides

Rodrigo Gouveia

24 de Janeiro de 2024

Cooperativas e COP29

A Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP) deste ano terá lugar em Baku, Azerbaijão, durante o mês de novembro. O processo já é polémico, apesar de ainda estarmos no início do ano.

A escolha de outra nação produtora e exportadora de petróleo, depois do Dubai no ano passado, não foi bem recebida por muitos, que temem que as negociações climáticas mais importantes estejam a ser sequestradas pela indústria dos combustíveis fósseis. Estes receios pareceram ainda mais justificados quando o governo do Azerbaijão nomeou Mukhtar Babayev, o atual Ministro do Ambiente, que tem uma carreira de décadas numa das maiores empresas petrolíferas do país, como Presidente da COP29. Não é de estranhar, pois, que Babayev tenha nomeado muitos dos seus colegas da indústria para o comité responsável pela organização da conferência.

Nenhuma mulher foi incluída nesse comité.

Após uma forte reação negativa relativamente à composição do comité, Babayev recuou e nomeou doze mulheres, mas o estrago já foi feito e a mensagem é clara.

Na COP do ano passado, os países concordaram em “fazer uma transição” dos combustíveis fósseis, uma declaração que alguns elogiaram como um feito sem precedentes, mostrando que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é inevitável. Outros, como eu, são mais céticos e vêem-na como uma concessão retórica insignificante e sem consequências reais, especialmente se considerarmos que a maioria dos países não cumpriu outros compromissos e obrigações mais concretos. Um assunto muito polémico que continuará a ser discutido.

Este ano, porém, o foco principal parece ser o financiamento para a adaptação e mitigação dos efeitos das alterações climáticas. Um tema muito importante, sem dúvida, tendo em conta que estes efeitos são inevitáveis, uma vez que pouco se tem feito para os evitar. É sabido que as nações mais pobres e as populações mais pobres serão as que sofrerão os piores impactos das alterações climáticas e não terão recursos para lidar com eles. Encontrar soluções financeiras sustentáveis é crucial.

Qual é a posição do movimento cooperativo internacional em todas estas questões?

Sei que existem milhares de cooperativas em todo o mundo envolvidas na luta contra as alterações climáticas e que gerem os seus negócios, promovem iniciativas sociais e mobilizam as pessoas para o desenvolvimento sustentável. Mas, e o movimento global?

É tempo de as organizações cooperativas internacionais tomarem posição sobre estas questões controversas e terem uma posição política clara. Não basta, a meu ver, afirmar a importância do modelo cooperativo para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável, evitando os temas mais controversos. As instituições cooperativas deveriam estar mais envolvidas com outras organizações com ideias semelhantes nestes debates políticos cruciais e nos processos globais, caso contrário continuarão a ser vistas como marginais e sem impacto. O movimento cooperativo internacional precisa de ter uma posição política clara.

Agora é o momento de definir essa posição política, uma estratégia de envolvimento e de alocar recursos para apoiá-la, para que haja uma forte representação cooperativa na COP em Novembro. Isto deve incluir uma posição sobre os temas mais importantes que estão a ser discutidos pela comunidade global: a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis; metas de redução de emissões de carbono; mecanismos de aplicação; financiamento para adaptação e mitigação, etc.

O movimento cooperativo tem de se afirmar melhor como uma força em prol do ambiente.

NOTA: As opiniões expressas nestes artigos são exclusivamente do seu autor e não refletem, necessariamente, a opinião da PromoCoop ou dos seus parceiros.

Compartilhar