Porque precisamos de uma plataforma mundial para cooperativas de saúde

As cooperativas de saúde são um setor do movimento cooperativo relativamente desconhecido, apesar de seu enorme sucesso em vários países. Uma das razões para essa relativa falta de conhecimento, sobretudo dos governos, é o facto de as cooperativas de saúde frequentemente desempenharem um papel marginal ou complementar aos sistemas públicos de saúde nacionais ou, em alguns países, simplesmente não existirem.

As cooperativas de saúde são um excelente modelo para ajudar a alcançar a cobertura universal de saúde e outros objetivos de saúde, que fazem parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). De fato, as cooperativas de saúde podem ser uma maneira muito eficaz de complementar os sistemas nacionais de saúde de maneira aberta, democrática, acessível e de qualidade.

Então, por que não existem mais cooperativas de saúde?

Um projeto de pesquisa recente em que estivemos envolvidos mostra que as cooperativas de saúde ainda enfrentam muitos desafios para se desenvolverem, em parte devido à falta de conhecimento do seu potencial, como mencionado anteriormente, o que leva à falta de investimento no setor. Além disso, as cooperativas de saúde enfrentam muitas necessidades que não podem superar por conta própria, mesmo nos casos em que são grandes e bem-sucedidas.

De acordo com uma pesquisa que reuniu as opiniões de especialistas de todo o mundo, os três principais desafios para as cooperativas de saúde são:

1. Partilha de conhecimentos e informação: por possuírem um modelo específico de negócios, diferentemente de outros do setor da saúde, as cooperativas de saúde poderiam beneficiar de mais intercâmbio de conhecimentos e informação, principalmente em relação à sua natureza cooperativa.

2. Financiamento: não surpreende que muitos participantes da pesquisa identificaram a falta de financiamento como um dos principais obstáculos ao desenvolvimento da sua cooperativa.

3. Capacitação, formação e assistência técnica: as cooperativas de saúde certamente beneficiariam de mais iniciativas de capacitação, formação e assistência técnica, uma vez que, em muitos países, o acesso a essas oportunidades é muito limitado.

O que pode ser feito para superar esses desafios?

A resposta não é simples e a solução requer várias abordagens. No entanto, a criação de uma plataforma global para cooperativas e outras organizações da economia social que trabalham no setor da saúde deve fazer parte da resposta. Construir uma plataforma comum em que as cooperativas pudessem compartilhar conhecimentos e informações e receber assistência em suas áreas de necessidade criaria as condições para seu desenvolvimento.

A única estrutura global que reúne cooperativas de saúde, a Organização Mundial das Cooperativas de Saúde (IHCO), um dos parceiros no projeto mencionado acima, é uma estrutura representativa e não possui recursos para lidar efetivamente com os desafios identificados.

No entanto, as projeções mostram que uma plataforma global pode ser uma iniciativa autossustentável em menos de quatro anos se existir financiamento para a sua fase inicial. Portanto, é necessário encontrar os parceiros que estejam dispostos a investir nessa oportunidade, o que pode ser uma mistura de organizações internacionais, agências nacionais de desenvolvimento, ministérios e cooperativas.

Existe uma tendência mundial de desinteresse do setor público relativamente à sua atuação no setor da saúde, que traz consigo muitas questões relacionadas com justiça social, democracia, direitos humanos, igualdade etc. Se, além disso, não houver investimento na promoção e desenvolvimento de cooperativas de saúde, esses problemas vão-se agravar. Construir uma plataforma mundial é uma necessidade urgente para criar a base de crescimento do setor.