
Manuel Mariño
Integração cooperativa
A questão da integração cooperativa é um dos aspetos mais discutidos e levantados há anos em muitas das conferências, seminários e workshops organizados pelas cooperativas e suas organizações de integração.
Apesar disso, e da maior consciencialização existente no setor sobre a importância do assunto, persistem problemas de integração, sejam políticos e/ou económicos, e em alguns casos continuam a agravar-se. Isso leva a que os resultados do trabalho de influência sobre políticas públicas sejam poucos ou, em alguns casos, inexistentes.
Por esse motivo, quero levantar neste e noutros artigos aspetos da integração cooperativa que considero relevantes.
Antecedentes e definição de integração cooperativa
Das três revisões dos Princípios Cooperativos que a Aliança Cooperativa Internacional (ACI) realizou (1937, 1966 e 1995), apenas a primeira não menciona explicitamente o princípio da integração cooperativa.
O sexto princípio foi manifestado pela primeira vez como um dos princípios cooperativos no que, na época, foi descrito como um "esclarecimento" dos princípios, no 23º Congresso da Aliança, realizado em Viena em 1966. Esta revisão reconheceu que, para capturar a visão de uma nova economia cooperativa, as cooperativas teriam que se nutrir e apoiar explicitamente. O relatório do Congresso de Viena incluía a seguinte recomendação:
"Consideramos importante adicionar um princípio de crescimento por meio da cooperação entre cooperativas: todas as organizações cooperativas, para melhor beneficiarem os seus membros e comunidades, devem cooperar ativamente em todos os aspetos práticos com outras cooperativas aos níveis local, nacional e internacional."
O relatório continua explicando:
"Embora os princípios tenham surgido como normas para governar as relações dos membros individuais das cooperativas entre si e com suas sociedades, a sua aplicação não se limita às sociedades de primeiro grau. Eles devem ser lealmente respeitados pelas instituições que representam a cooperação entre sociedades cooperativas, e não entre indivíduos
[...] A ideia de um setor cooperativo na economia é muitas vezes um conceito intelectual sem uma realidade material correspondente, simplesmente devido à falta de unidade e coesão entre os diferentes ramos do movimento."
O relatório também reconheceu que as cooperativas tinham poucas chances de atingir todo o seu potencial trabalhando sozinhas. A ideia e a promessa de um movimento cooperativo exigiam coordenação, cooperação e colaboração entre as cooperativas existentes, bem como a extensão do modelo de ajuda mútua a um número cada vez maior de setores econômicos, problemas sociais e regiões geográficas. O relatório continua assim:
"Para que o movimento cooperativo alcance a sua dimensão plena, seja em cada país ou internacionalmente, [...] as instituições cooperativas devem-se apoiar sem reservas."
Na Assembleia Geral da Aliança, em 1995, os Princípios Cooperativos são revistos novamente no contexto da nova Declaração sobre a Identidade Cooperativa e o sexto princípio cooperativo "Cooperação entre Cooperativas", que se refere precisamente à questão da integração cooperativa, diz literalmente:
"As cooperativas servem os seus membros mais eficazmente e dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais."
Interpretação das palavras e frases do sexto princípio:
"As cooperativas servem seus membros mais eficazmente e dão mais força ao movimento cooperativo trabalhando em conjunto." Esta declaração reconhece o facto de que, embora as cooperativas possam ir muito longe localmente, elas podem ir ainda mais longe se colaborarem para criar economias em maior escala e construirem uma força mútua e representativa. Isso requer um difícil equilíbrio de interesses: vantagens em larga escala para todas as cooperativas, mantendo a independência e o controle democrático dos membros. É um desafio permanente para todas as estruturas cooperativas e um teste para engenhosidade cooperativa.
"Trabalhando em conjunto através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais." A afirmação na primeira parte da frase trata do "porquê" e a segunda parte trata do "como". O "como", a maneira como as cooperativas trabalham juntas, é através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais. Esse sexto princípio fala em trabalhar sempre com o mesmo objetivo, não apenas uma colaboração ocasional. A colaboração, embora semelhante, é um trabalho para um objetivo específico e preciso, enquanto que a cooperação é um compromisso mais profundo e de longo prazo para alcançar objetivos comuns.
Conseguir uma cooperação eficaz requer tempo, recursos e habilidades para resolver problemas. Também requer a aplicação do 2º princípio de gestão democrática: processos de tomada de decisão abertos, transparentes, responsáveis e democráticos devem existir quando as cooperativas trabalham em conjunto para benefício mútuo.
Algumas premissas a serem consideradas nos processos de integração:
1. É necessário fortalecer organizações de base e organizações de integração de segundo grau;
2. É essencial que os membros das cooperativas possuam os elementos e ferramentas necessários para que sua participação na vida democrática da cooperativa não seja apenas uma questão de forma, mas também um agente de mudança;
3. A clareza na definição dos papéis das agências de integração é essencial;
4. Ter líderes credíveis, éticos e comprometidos.
Lembre-se de que, quando falamos de integração, não nos referimos apenas à perspetiva da união político-ideológica, mas também à perspetiva económica.
NOTA: As opiniões expressas nestes artigos são exclusivamente do seu autor e não refletem, necessariamente, a opinião da PromoCoop ou dos seus parceiros.
Compartilhar